5 de jan. de 2011

Meu coração do tamanho de um grão de areia.

Amo crianças! Acho fofo e curto brincar e, porque não, aprender com elas! Mas eu também amo gente velha. Gosto de sentar ao lado deles, me divirto com as histórias cheias de detalhes do passado, acho chique as jóias antigas que as idosas às vezes ostentam, tenho paciência infinita para repetir mil vezes a mesma pergunta e também não me importo de responder várias vezes a mesma questão. Amo muito a cultura japonesa justamente porque é um povo que preserva seus idosos como um bem precioso. E é exatamente assim que eu os vejo: peças antigas mas raras de um museu! Fui criada por dois idosos. Muita gente já sabe minha história, mas só pra resumir, fiquei órfã muito cedo e minha mãe virou minha irmã, porque fomos todos morar com meus avós e eles acabaram me criando. Simples assim. Quer dizer...não tão simples! Fui muito bem criada e estou ótima, obrigada! Ter pais diretos é óbvio que me fez falta, mas minha avó e meu avô foram excelentes substitutos!
Infelizmente, vovó partiu. Cedo, eu acho. Mas como sempre amei gente velha, não posso me queixar, porque aproveitei muito bem a vida dela ao meu lado! Não passei um dia sem falar e sem estar com ela! Nem nas viagens longas eu deixava de ficar horas ao telefone com minha véinha! E meu avô ficou. E envelheceu. E continua teimoso.
Ele tem aquele jeitão patriarca de forte, que não quer largar o ninho. Sempre me fala que se um dia eu tirar ele da casa em que mora, sozinho, ele entrará direto num caixão! Particularmente eu não acredito nisso. Vovô é cão que ladra mas nunca morde. Ele fala que não quer saír, que não quer passear, mas é só dar um gritinho que ele vai comigo pra onde eu for, numa festa, numa viagem ou até ficar de guarda olhando meus filhotes!
Ele tem uma filha, que é minha mãe. Minha mãe não quer morar com ele e nem quer que ele more com ela. Ela diz que tem razões para tal. Eu acho que não, mas enfim...cada um sabe do seu cada um. O fato é que, para não deixá-lo totalmente só, uma moça cuida dele. Mas ela só vai durante o dia. A noite, vovô passa sozinho. Eu ligo toda noite. Ele atende, fala comigo, enrola um pouco a língua e não me escuta direito. Mas ouço sua voz, mando ele dormir e deito sossegada. Ás quintas-feiras fico com ele. Não por nada, mas porque gosto. Gosto de ouvir suas histórias repetidas e de rir com seus resmungos! Ele mora perto da minha casa mas não mora comigo. Eu queria muito, mas tenho dois filhos pequenos e ele não tem paciência com ambos. E não quero tirar essa responsabilidade da minha mãe. Afinal, está na hora dela crescer um pouco, né não? Pois bem, ontem tive um dos piores dias da minha vida! Isso porque um medo interno, que roía meu coração, infelizmente se concretizou. Todas as noites eu pensava: "Meu Deus! E se acontece algo com o velho de madrugada? A gente nem vai saber! Só no dia seguinte, pela manhã!" E ontem, aconteceu. A moça que cuida dele, me ligou logo de manhã e disse que não conseguia entrar na casa porque um portão estava trancado. Fui correndo tentar abrir e não consegui. Era um portão que eu achava que não havia chave, porque tenho as chaves de todas as portas! Mas descobri que desse portão somente ele as possuía! Chamei um chaveiro que arrombou o mesmo e, ao entrar na casa, tremi ao ver a luz da sala acesa, coisa que ele nunca fazia pois dormia cedo e apagava tudo! Gelei e minha cabeça pensou rápido: algo aconteceu de noite! E logo o vi, caído de bruços, no chão gelado da cozinha, todo molhado de urina e sangue! Corri e meu primeiro instinto foi tirá-lo dali mas como sou fria pra cacete (sou mesmo, raciocino primeiro e depois choro!) lembrei do perigo de mexer em pessoas caídas porque podemos piorar a situação! Chamei por ele e vi que ele estava consciente, pedindo para levantá-lo! Pedi para que ficasse calmo e quieto e corri gritando ajuda! A moça que cuida dele, estava na calçada e como ele mora quase ao lado de um batalhão do Corpo de Bombeiros, falei para que ela pedisse ajuda por lá! Os bombeiros já vieram com a ambulância e o Resgate, o que foi uma bênção porque logo cuidaram dele e nos levaram a um Hospital bem próximo! Depois de vê-lo limpo, cuidado, engessado (ele quebrou um braço) e com médicos a disposição, desabei... Meu coração ficou minímo! Pensei na sua solidão, caído ali, no chão, sem condições de pedir ajuda e sem ter ninguém ao seu lado para ajudá-lo! Calculei que horas isso deve ter acontecido...revi seus passos na casa mil vezes, tentando imaginar como ele caiu, o porque dele ter caído, onde ele machucou, como ele cortou a cabeça para ter tanto sangue....Eu que gosto tanto de ficar sozinha, me arrepiei ao me imaginar no estado em que eu o encontrei! E lembrei dos milhares de idosos que passam pela mesma situação do meu avô, mas de forma pior porque não tem ninguém para ,ao mínimo, perceber que um portão está trancado!

Chorei engasgada na minha casa, escondida. Escondida de mim mesma, eu acho, porque no fundo, mesmo sabendo que minha mãe é que deve cuidar dele, penso que eu deveria ter feito mais! Talvez mandar meus filhos ficarem mais quietos e trazer meu avô pra casa...porque ele me adotou de mala e cuia. Ele não me deixou em algum lugar, sozinha, e me visitava todo dia. 

Alguns vão me consolar: Mas vc era criança! 
E eu vou responder: e agora ele não é também? 
Só sei que, no momento, não consigo pensar direito e nem sei o que fazer, que solução tomar. Só sei que meu coração está muito pequeno. Menor que um grão de areia....

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18 comentários:

Regina Laura disse...

Lola, nossa, to que nem você aqui. Do tamanho de um grão de areia.
Que situação!
Graças a Deus que você tem essa mente lúcida e conseguiu chamar ajuda.
Só posso te desejar que seu avô se recupere totalmente.
Que bom que ele tem a vocês para cuidar.
Fica com Deus
Beijo

Neli Rodrigues disse...

Não sei nem o que escrever...que difícil situação. Vc tá fazendo sua parte e mto bem, saiba disso. Mas pense numa solução com a cabeça fria e tendo opiniões de pessoas que convive com vc.
Mta força, minha querida.
Bjs♥

David Ramos disse...

Lola querida... complicadíssimo isso... mas não sei bem os motivos de sua mãe... que desculpe, me decepciona, porque quem deve o favor de ter criado vc é ela... afinal ela deixou vc pra ele criar. Mas tudo bem, temos que ser práticos antes de mais nada.
Ja pensou em ter alguem durante a noite na casa dele? Uma "dama de companhia" que fique de 2ª a 6ª com ele. Assim ele só ficaria em sua casa nos finais de semana.
Foi assim com minha avó, foi uma maneira dela ter sua casinha viver sua vida e ao mesmo tempo ser monitorada sempre.

Beijos Mana!

Força com tudo isso.. pense que vc esta fazendo bem o seu papel de neta/filha.

Lilian Britto disse...

Lola, já estou ciente de tudo isso por causa do Twitter e tbem fiquei c o coração apertado por causa disso. Sempre penso isso a respeito de minha mãe, já com 71 anos e q tbem não quer sair da própria casa, mas ela ainda tem minha irmã que é solteira e pelo jeito vai ser ainda por um bom tempo... Difícil dizer o q vc deve fazer, é como vc mesma disse, cada um sabe do seu cada um, mas penso q sua mãe tem uma grande responsabilidade nisso! Poxa, é o pai dela! Mas não dá pra obrigar alguem a ser responsável e solidário né? E se vc arrumasse alguem pra ficar com ele à noite? E sei lá, se ficasse muito pesado pra pagar, pedisse uma ajuda à sua mãe? O problema estaria resolvido né?
Amiga, qualquer coisa, estou aqui tá.
Beijos, boa semana, saúde p o vovô =*

Kelly Kobor Dias disse...

To eu aqui bobona chorando com vocÊ. PErdi meu pai em fevereiro, ele ficou 15 anos 6 meses e 15 dias de cama. Morei com eles até minha filha nascer ai não deu mais, porque a casa era antiga e ela alérgica. Eu não dormia a noite de medo de chegar de manhã e encontrá lo morto, não podia imaginar ele enfrentando isso sozinho, graças a Deus, partiu da maneira mais calma possível, sorrindo enquanto brincava com minha irmã, simplesmente deitou a cabeça de lado e deixou de sofrer.
Nossos velhinhos merecem toda atenção e carinho, sua situação é complicada, mas você tem razão quando diz que algo tem que ser feito. Força e cabeça no lugar para tomar a melhor decisão para todos, beijos

Tati disse...

Lola querida, eu acho que a primeira atitude é esquecer culpa. Você fez até hoje o que achou melhor. Ele sempre disse que não queria sair da casa, e você o respeitou. Mas também acho que agora já não dá mais para atender este apelo. Ele, sozinho, não dá mais. Ou uma cuidadora 24h, o que é dispendioso e não tem o mesmo laço afetivo, ou você cuida dele. Não espere de sua mãe uma responsabilidade que ela não está disposta a assumir.
Mas a verdade é que esta resposta só você que tem. Nada do que dissermos pode responder sua pergunta, só você.
Fique em paz, há amor nesta relação e os caminhos se acertam.
Beijos e muita luz. Melhoras para ele.

Karina disse...

Lola querida que susto! Mas ainda bem que foi só um susto. Encare como se fosse um aviso... ainda há tempo.
Tem um casal de velhinhos que são meus vizinhos, certa vez o Sr. passou mal, ainda bem que ele conseguiu telefonar aqui em casa, minha irmã saiu as 5 da matina pra levá-lo no hospital. Dps disso ele contratou 2 enfermeiras se revezando para cuidar deles. Os filhos visitam pouco, alguns moram longe. Ele tem a sorte de ser bem de vida e poder pagar pra alguém ficar com eles, mas fico pensando... e quem não tem condições né? Cuidar de gente idosa não é fácil, mas acho que se eles cuidaram da gente com tanto carinho a vida toda, pq não retribuir qdo eles mais precisam né?
Mta força pra vc! Estaremos sempre aqui pra te apoiar!
Estarei orando por seu avô!
Bjos com carinho,
Karina

Patricia Daltro disse...

Lola, não consigo imaginar o tamanho do seu desespero. Felizmente nunca passei por isso, se bem, que todos os dias é com esse medo que durmo e acordo em relação a minha mãe, embora ela não seja tão velhinha quanto seu avô.
Mas, uma frase do seu avô lembrou minha bisavô, que aos 98 anos, disse aos parentes que se tirasse ela da casa onde vivera por décadas, ela morreria. Infelizmente, após uma queda, seus filhos a tiraram de lá, e um ano depois, ela desistiu de viver.
Forçar a convivência entre sua mãe e seu avô também não daria certo, não seria bom nem para ela, nem para ele...
Algumas soluções, que apresentei aos meus parentes, antes de eles tirarem minha bisá da casa dela foi:
1) Contratar alguém que possa dormir no serviço. Que não seja todas as noites, mas duas ou três vezes por semana;
2) Nos dias que não tiver a enfermeira, revezar entre os parentes mais próximos o pernoite, assim, não fica pesado para ninguém.
3) E escolher uma noite para que ele passe com você.

Outra coisa interessante é instalar câmeras na casa dele, assim, você estaria sempre vendo e se (Deus o livre e o proteja) um outro acidente acontecer, você saberia na hora.

Apesar de quê, agora, quando ele sair do hospital, tem que ir para uma casa onde tenha afeto, atenção e cuidados, já que estará com o braço quebrado.

Desculpa me meter assim, mas é que na ocasião da minha bisavó, pensei muito em como tornar menos traumática a mudança na vida dela.

Beijos e que ele fique logo, logo bom!

Alexandra Lopes Da Cunha disse...

Me emocionei!
Ontem, pensei no que te aconteceu á noite e me lembrei do meu avô, que partiu faz tanto tempo e pensei no meu pai, que já tem 79 anos e vai passar por um procedimento cardíaco...é duro ver aqueles que amamos envelhecendo! E o que fazer?
Não sei. Ouve teu coração, é o melhor que posso dizer.
bjs

Roberta Mello disse...

Ai amiga, que loucura, imagino seu desespero...olha os amigos já falaram grandes idéias, mas só vc pode saber o que vai ser melhor, talvez realmente contratar alguém para estar com ele em turnos, ou realmente levá-lo para ficar contigo, se isso for tb o que vc acha o melhor prá ele, pois nem sempre é, pessoas idosas, algumas, gostam do seu canto, do silencio e as vezes priva-los disso tb não é a melhor saída!! Qto a sua mãe, querida, não espere muito dela, siga o seu coração viu!!! Beijocas

Lola disse...

Aos que comentaram, agradeço mesmo, de coração! Vcs fizeram meu coração crescer um pouco...rs

Obrigada!

Patrícia Gomes disse...

Amada, não consigo nem imaginar a sua aflição, agonia e turbilhão de pensamentos e sentimentos agora. Com certeza tudo intenso demais, porque é uma situação tensa.
Eu só rezo para que Deus te ilumine e que você consiga sentir no seu coração o que melhor deva fazer.
Espero que o avôzinho, depois desse susto, fique menos teimoso e que se pronto restabeleça sem maiores dores e traumas, que a mãe esqueça prováveis razões e caia em si com relação ao amor e à responsabilidade.

E que você fique bem.
Xêros acolhedores, amada!
Paty



PS: E tu tá sim lá na minha blogroll e nos links q recomendo viu! ;oP

Calma que estou com pressa! disse...

oi amia-
eu imagino a dor dele e nunca reclmar da filh, deve haveralguma imcomptibilidade, vai entender -
so ue agora ele é a criança - eu acho que ele deveria morar contigo , ou então ter alguem qe fque durante o dia e à noite também -
me dá uma dor no coração imaginar ele deitadinho , sozinho porque os meus pais tem 80 anos - e meu pai tem mal de alzheimer e já presenciei cada cena - eles deixam de ser aqueles homens fortes , e ficam frageis, dá vontade de levar pra casa e cuidar -
e afinal ele foi praticamente teu pai - eu não consigo imaginar a ideia de abandonar num asilo , como muitos fazem -
espero que ele esteja melhor
bj
lu

Giuliana: disse...

Lola,

Tentar mensurar como seu coração está é impossível para nós, dá pra ter uma leve noção. Só quem sente sabe o tamanho.

Ontem, ao ler seus tweets fiquei com o coração na mão, agora ao ler seu post, por completo, fiquei com o coração na garganta a um ponto de pular pra fora. Peito apertou, e sinceramente, chorei. Porque a situação do seu avô me fez pensar nos meus avós, nos meus pais. E isso tudo mexe demais com a gente.

Espero que Deus abençõe o seu coração, o do seu avô e da sua família para conseguirem uma solução, e para seu avô enfim aceitá-la.

Beijos.

Tays Rocha disse...

Imagino bem seu sentimento por ele e o susto, fui criada pela minha avó até os 4 anos, ela tbm era teimosa, mas conseguimos convencê-la e minha tia morava com ela, ela se foi por ter adoecido. Meu medo tbm era sempre esse, de acontecer algo quando estávamos ausentes. É muito difícil essa situação, porque forçar uma convivência não será saudável para ambos, reprimir seus filhos é bem complicado tbm, mas que realmente não dá mais prá ele ficar sozinho, isso não dá mesmo. Que Deus acalme seu coração e te dê sabedoria suficiente prá saber como agir e que decisão tomar. Beijcoas querida ♥

Marcia disse...

Ai, querida, só agora vi seu post e chorei contigo. Entendo totalmente seu dilema e sua posição...
Pense que vc cuida da situação da melhor maneira possível, que o ama - e que ele sabe disso.
Rezarei para que ele se recupere completa e rapidamente.
Beijos.

Telma Maciel disse...

Ai, Lola... eu imagino o que vc sente pq vi minha mãe e tios passando pela msm situação. Minha avó bem fraquinha e já sem condições de cuidar do meu avô. A situação foi resolvida, graças a Deus! Hoje as coisas estão mais tranquilas, mas não menos 'sofridas'.
Te desejo sorte, amiga... pra decidir com o coração, mas tbm com clareza! Só vc msm é quem pode saber...
Um beijo!

Priscyla Rodrigues disse...

Oi Lola...

Sei bem o que está passando... Minha avó teve um AVC no fim do ano e foi bem assustadora a possibilidade de perdê-la... Também fui bem fria na hora de mobilizar ajuda para levá-la ao hospital... Eu mesma levei... Nenhum dos filhos dela quiseram fazê-lo... Não sei se descaso, não sei se falta dessa frieza para conseguir resolver as coisas... Fiquei com ela toda noite até que tudo estivesse sob controle... DEpois que uma tia foi me substituir para ficar com ela, eu desmoronei completamente...
E quando vc fala do seu avô ser cabeça dura, sei como é... Meu avô é exatamente assim... Mas se Deus quiser vocês chegaram num acordo que vai ser bom pra ele...

Bjoks

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