23 de out. de 2010

A banalização da violência

Juro para vocês que eu não queria entrar nesse assunto que, atualmente, faz parte de toda a mídia falada e escrita: o caso da bolinha de papel! Não queria escrever sobre isso porque pode parecer que estou defendendo um ou outro candidato à Presidência da República, mas diante de uma notícia que ouvi na noite de 22/10 pelo rádio, não posso me calar! Mas explico que não citarei ideologias políticas nem farei campanha a ninguém! Mas preciso colocar aqui a minha opinião sobre tudo isso, que muitos não querem enxergar, mas envolve violência sim! 

Não sei se as pessoas se recordam, mas a mais ou menos 10 meses, um jovem de São Paulo de 22 anos, bonito, formado em Designer pela Uniban, entrou na Livraria Cultura localizada numa famosa avenida da cidade. Henrique Pereira entrou para folhear um livro. Distraído em sua leitura, talvez nem percebeu e nem deu tempo de ver o que lhe acontecera: foi golpeado violentamente na cabeça por um taco de baseball. Henrique não era bandido. Henrique não era político. Henrique não era candidato. Henrique não entrou para fazer bagunça na livraria. Henrique era um jovem de 22 anos, filho, Designer, amigo. A partir dali, Henrique enfrentou uma luta árdua e diária, passando por várias cirurgias no Hospital das Clínicas e permanecendo na UTI do mesmo, por 10 meses, em coma! O que motivou o agressor de Henrique a fazer isso? Não sabemos. Dizem que era louco. Inclusive está preso num Manicômio Judiciário. No dia 22/10, Henrique completou sua missão no mundo e morreu. Deixou pai e mãe desolados. Deixou amigos desolados. Deixou-me desolada.
Não conheço Henrique, mas minha desolação se deve ao fato da frase anterior que escrevi: da que não sabemos o que motivou o rapaz, Personal Trainer, agredir Henrique de forma tão violenta e ao mesmo tempo por motivo inexistente ou banal. Será mesmo que não sabemos o porque disso acontecer? Quando vemos o episódio do que aconteceu na caminhada de um candidato no Rio, chegamos a dar risada: "Pôxa! O cara fez tomografia porque levou uma bolinha de papel na careca? kkkkkkk" "E daí se foi bolinha de papel, bexiga d'água, bobina ou fita crepe? Que babaca! kkkkkkk"  E tais brincadeiras ganham ainda mais força quando alguém, que imaginamos ser superior a nós na liturgia do cargo, também vai a TV brincar mais ainda com o episódio! A mensagem dita é que: agressão pequena não é agressão, é piada! Mas, eu aprendi diferente. Aprendi que os grandes delitos começam com os pequenos delitos.
Que um furto de R$10,00 numa carteira pode virar depois um sequestro armado. Que um cigarro de maconha fumado, pode virar num vicío mortal em crack. Que a falta de ética e decoro quem vem de cima pode estimular a falta de ética e de decoro de todos!

E daí eu pergunto aqui: 
E se fosse um taco de baseball? 
O que está acontecendo quando a gente acha graça de alguém ser agredido por papel ou por fita crepe? De alguém ser agredido porque nada fez? Ou o tal candidato estava fazendo algo errado na caminhada? 
Henrique estava fazendo algo errado na Livraria Cultura? 
É por isso que fiquei desolada.
 Porque, se continuarmos assim, um dia acharemos graça também que um jovem morra com uma tacada na cabeça, só porque estava folheando um livro.


Obs.: Como realmente não quero defender ninguém, nem fazer campanha política para ninguém, não citei os nomes dos envolvidos no episódio. Repito novamente: só estou fazendo uma associação sobre a banalização da violência. Porque, como a violência será algo banal e normal,  tenho medo de não ter respostas quando um filho meu me olhar e dizer: "Mãe, não esquenta! É normal matar para ver cair." Pin It Now!

14 comentários:

Claudiene Finotti disse...

Eu também me recuso a defender esta ou aquela ideologia política.

Que briguem nos debates, que apontem baixarias uns dos outros, até aí é deplorável mais aceitável. Agora ofender a integridade aí não...

Eu tbém achei o cúmulo nosso líder maior banalizar esse ataque. Não sou a favor politicamente de um nem de outro, apenas acho que ninguém pode invadir o direito do outro, danificar seu bem, no caso, seu corpo, e o povo sair achando graça, achando banal. É o mesmo povo que ri, faz piadinha com a roubalheira dos bandidos com dinheiro na cueca, ou seja, bobos alegres, que em vez de se indignar acha graça e acha normal sermos lesados fisica e psicologicamente todos os dias.

Eu tento ser otimista, agora boba alegre é outra história...affff...

Beijos.

Clau

Andreia Lica disse...

Não vou falar de política, mas acho que quando o presidente de uma nação, em entrevista nacional faz um comentário como aquele, me faz ver que a banalização e a falta de respeito com o próximo é muito grande. Ele deveria se ater mais em comandar o país, tentando viabilizar políticas que diminuissem a violência, corrupção e acima de tudo a falta de respeito com o próximo.
O que levou o Personal trainer a fazer o que fez? A certeza da impunidade...pq a violência só cresce em nosso país,pq todos que a praticam sabem que a lei é morosa, que podem se beneficiar por brechas na lei etc...O rapaz que tirou a vida, não era um qualquer, ele tinha (creio eu) formação superior, mas sabia que se alegasse loucura, falta de são consciência estaria tudo resolvido. E agora? O que fazer com a família do rapaz que faleceu? Quem vai tirar a dor do peito desta família? Ninguém pode trazer o seu filho de volta. Nem mesmo o Presidente da nação.

Desculpe o desabafo.

Bjos

Lily Luz disse...

Pensamos muito parecido.
Não achei graça nenhuma no "atentado" ao político, e poderia ter sido com qq um eu tbem nao acharia graça. Realmente a violência está banalizada e poderemos ainda ser vítimas disso.
:*

Patricia Daltro disse...

Bia, eu concordo em parte com seu post. E acho que é preciso diferenciar as coisas. O que aconteceu com o jovem na livraria foi de um absurdo tão grande que não sei nem como expressar! Principalmente pq o acusado já havia sido indiciado anteriormente por agressões similares. A polícia, os psiquiatras, o manicômio, não atentaram para a gravidade da doença mental dele e, ao meu ver, são co-responsáveis pela morte desse jovem.
Mas, isso, infelizmente faz parte de uma política de saúde mental que, a menos que a pessoa visivelmente ponha em risco sua vida ou a vida de outrem, nada pode ser feito. Sei disso por experiência própria, que a cerca de dois meses estamos tentando internar uma pessoa próxima, e no entanto, nada pode ser feito.
O que aconteceu com o candidato, também não vou citar nomes, foi grave, foi. Mas, se a reação dele tivesse sido a sua, de denúncia do ato, de assumir que foi uma bolinha inofensiva, mas que poderia ter sido algo perigoso e dai entrar em todo o discurso eleitoral cabível. Eu seria a primeira a aplaudir e concordar, independente do meu voto.
O rídiculo de tudo foi o teatro, a pantomima de se fingir ferido após receber um telefonema. Antes do telefonema, era como se nada tivesse acontecido. O fingir-se ferido foi que criou toda a ridicularização e principalmente, o uso de uma emissora para justificar todo o fingimento.
Também concordo com você que muitas vezes, uma pessoa que comete um pequeno delito pode, não necessariamente vai, cometer um delito maior ainda. Por isso educo meu filho deixando bem claro as regras e os limites, e tenho certeza de que você faz o mesmo que o seu.
Mas também educo que ele não pode mentir, nem fingir doença ou similares com intuito de obter algo. E foi isso que vi acontecer neste episódio.
Embora amigas, nem sempre precisamos concordar. beijos.

Regina Laura disse...

Bia, eu vou quase que diariamente à Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Estive lá no dia em que esse mesmo rapaz quebrou a vitrine da livraria com o mesmo taco de beisebol. Pergunto: se algo tivesse sido feito naquela ocasião, teria acontecido essa desgraça?
Como alguém, após uma ocorrência dessas, consegue entrar de novo na mesma livraria, com o mesmo taco de beisebol, e matar um rapaz?
A impunidade incentiva o crime. E a impunidade começa dentro de casa.
É como vc falou. Crime é crime. Tanto faz roubar um centavo, o brinquedo do amiguinho, ou um milhão de reais. A base é a mesma.
Se hoje fazemos piada da desgraça alheia, amanhã podemos estar nos noticiários, com alguém fazendo graça da gente. Triste momento esse.
Bjs

Lilian Britto disse...

Lola, vc tocou no ponto fundamantal disso tudo: não existe "tamanho" de violência. Exite violência e ponto. O que aconteceu nesse caso, na minha humilde opinião, foram motivações puramente políticas de gente que deveria estar "trabalhando" (afinal, presidente ganha pra ser presidente né, e não pra fazer campanha política) ao invés de estar indo na TV falar bobagem ¬¬
Já de início fiquei estarrecida com a história e isso tem me motivado a pensar seriamente se devo mesmo votar em alguem no dia 31/10. Pra mim, nenhum dos dois "ilustres"(eca) candidatos merecem o meu voto de confiança, pra mim são duas porcarias nesse imenso mar de porcarias que virou essa campanha política. Já afirmei várias vezes q não iria mais falar de política aqui na net, mas não dá! A política está em tudo! Graças a Deus, e à educação de meus pais, meu coração não endureceu diante da dureza da vida... Ainda consigo me comover com a miséria alheia, consigo chorar por pessoas que não conheço. Lamentável o caso do jovem da livraria. Me lembro de ter ficado estarrecida na época, mas confesso que já havia me esquecido... Fui me lembrar com o anúncio da morte dele e voltei a ficar estarrecida. São tantos acotnecimentos hediondos em nosso mundo, que acabamos nos esquecendo de tudo que ocorre à nossa volta!
A base de tudo Lola, é mesmo a educação. Se o governo não cuida disso, cuidemos nós de nossos filhos! Vamos dar exemplo de cidadania e civilidade! Vamos ensinar aos nossos pequenos que violência é violência e q não importa q seja uma bolinha de papel ou um taco de golfe...
Ótimo post amiga, aliás, como sempre!
Beijos, bom final de semana =*

Unknown disse...

Boa tarde Lola,

Seu post nos leva mesmo a refletir sobre a banalização de qualquer coisa...desde que seja por uma boa causa.

Gostei do que li...

Beijos,

Pelos caminhos da vida. disse...

Assino embaixo Lola, sou contra qualquer tipo de violência.

Obrigada pela sua companhia.

Bom domingo!

beijooo.

Ana Flor disse...

Eu sou contra qualquer atitude que ultrapasse os limites do respeito a outro ser humano (ou a outros seres vivos - menos baratas e pernilongos rs).

Se o episódio tivesse terminado assim -
"em passeata pela cidade, candidato é atingido por bola de papel; fim" - eu acharia um grande desrespeito, inaceitável. Como acho igualmente um desrespeito quando um aluno joga uma bolinha de papel num professor.

[Falando nisso, quem dera fosse apenas essa a violência que os professores sofressem por parte de seus alunos hoje em dia.]

O fato é que não, não terminou assim.

O que se seguiu foi um desrespeito muito maior, voltado a toda uma população que está sendo constantemente feita de idiota numa vergonhosa campanha eleitoral (de ambos os lados).

Eu chamaria o que aconteceu de "manipulação dos fatos para promoção de interesses individuais", o que envolve muitas questões graves, inclusive éticas.

As duas coisas são ruins? São.
Igualmente ruins? De forma alguma, porque têm princípios e também pesos bem diferentes.

Também fiquei comovida com a brutal morte do designer, mas sinceramente não acho que ela tenha relação com aquela bola de papel - que, mesmo muito desrespeitoso, foi um ato de protesto.

A morte do rapaz não foi um protesto, mas ela tem sim a ver com a violência nossa de cada dia, que por sua vez tem a ver com um sistema penal falido, uma justiça nem sempre eficiente, um sistema de saúde pública MAIS DO QUE PRECÁRIO, tudo fruto do sistema corrupto que estamos inseridos.

A culpa é dos políticos? Sim. Isso tem a ver tanto com o partido X como com o Y, o Z e talvez o abecedário completo.

Mas é nossa também. Que atire a primeira pedra quem nunca, por exemplo, comprou um DVD ou software pirata.
"O computador que eu comprei saiu da loja com o Windows". Tá, e cadê a licença? Mas aí a culpa é da loja e não nossa, né? Sei.
Então deixa de ser roubo e passa a ser interceptação. Crime do mesmo jeito. E seguindo a linha do post: se o crime é "pequeno" ou "grande", é errado do mesmo jeito.

Parabéns pelo post! Que bom encontrar artigos que levem à reflexão e discussão.

Fernanda Reali disse...

Concordo com Ana Flor e acho que um episódio não tem relação com outro. Um foi assassinato, outro foi teatro.

bjs

Bárbara Rezende disse...

OI QUERIDA, VIM CONHECER SEU BLOG E ME DEPARO COM UM POST MARAVILHOSO DESTE!!!

POIS É A VIOLÊNCIA ESTÁ NUM PATAMAR DE BANALIDADE INCRÍVEL, ONDE PAI TORTURA FILHA ATÉ A MORTE (CASO JOANNA MARCENAL) E AINDA ESTÁ SOLTO FELIZ DA VIDA!!!

ATÉ ONDE VAMOS???

BJKSSSSSSSSSS
http://barbirezende.blogspot.com

Iara disse...

Lola, amiga querida, concordo com você em número, gênero e grau. Passamos a vida ensinandi nossos filhos a respeitar o outro, e nos deparamos volta e meia com este tipo de comprotamento. É triste sim, taco de baisebol, bolinha de papel, fita crepe, violencia é violencia e deve se encarada como tal, acredito que o ato foi banalisado por ideologias politicas e se começarmos a aceitar este tipo de banalização em breve não poderemos mais ensinar nossos filhos a respeitar mais nada. Se achamos que é normal tocar bolinha de papel em alguém que anda na rua fazendo campanha, quantos passos nos restam para achar normal crimes bárbaros como este da Cultura. Acho que está na hora de prevalecer o respeito neste país.
Um beijo carinhoso.
Iara

Giuliana: disse...

Qualquer tipo de violência, seja ela até mesmo verbal, é inaceitável, e muito menos motivo para chacota.

Estamos num mundo totalmente transviado, não conseguimos ao menos estabelecer um raciocínio lógico quanto a acontecimentos desse tipo, ainda mais no caso do rapaz.

Respeito é o minímo que se deve reinar na personalidade do ser humano.

Beijos.

O Hospicio... disse...

Oiiis adoro seu blog vc sabe disso... vim avisar que tem um selinho pra ti la no meu... otima semana! bjos